Silêncio, do silêncio eu faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
Não escrevas empatia se não queres saber
Olha pra Palestina e pras casas a arder
Olha pra Colômbia e pra'ró apelo à liberdade
Pra polícia, pra milícia, para a agressividade
E queres falar do quê?
Da loja que fechou, da festa que alguém cancelou
Da roupa que não compraste
E 'tás a falar do quê? Das amigas que não viste
Quando a tristeza insiste em pintar a cidade
Não te vale o hashtag se a alma é pequena
Não há cardinal que salve, nem clout que roube a cena
O sangue corre nas ruas, bombas que caiem do céu
De famílias como a tua que ninguém socorreu
Não me ouças, não me sigas, se tu não te importas
Eu vim pra abrir ao pontapé todas as portas
Vim pra falar de genocídio, de racismo ao microfone
Há quem se esconda no cinismo, eu meto a boca no trombone
E rezo a Deus, acendo a vela, e pergunto
Porque é que nos deste a terra, se não governaste o mundo?
Porque é que nos deste a guerra e a vontade de querer tudo?
Porque é que quem sofre, berra, e quem governa, é surdo?
Abraço os meus filhos esta noite, com firmeza
Agradeço a paz e a comida na mesa
E só penso em quem ficou sem nada
Na sopa dos pobres, na sopa da mágoa
Não escrevas empatia só para aparecer
Ser empático, é comparecer
É sofrer por ver alguém sofrer
É a ferida no corpo dum outro que insiste em doer
Que insiste em doer, que insiste em doer
Que insiste em doer
Silêncio, do silêncio eu faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco
Silêncio, do silêncio eu faço um grito
E o corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco